quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MINHA MÃE




Minha Mãe
Vinicius de Moraes






Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo



Tenho medo da vida, minha mãe.



Canta a doce cantiga que cantavas



Quando eu corria doido ao teu regaço



Com medo dos fantasmas do telhado.



Nina o meu sono cheio de inquietude



Batendo de levinho no meu braço



Que estou com muito medo, minha mãe.



Repousa a luz amiga dos teus olhos



Nos meus olhos sem luz e sem repouso



Dize à dor que me espera eternamente



Para ir embora.



Expulsa a angústia imensa



Do meu ser que não quer e que não pode



Dá-me um beijo na fonte dolorida



Que ela arde de febre, minha mãe.



Aninha-me em teu colo como outrora



Dize-me bem baixo assim:



— Filho, não temasDorme em sossego,



que tua mãe não dorme.



Dorme.



Os que de há muito te esperavam



Cansados já se foram para longe.



Perto de ti está tua mãezinha



Teu irmão. que o estudo adormeceu



Tuas irmãs pisando de levinho



Para não despertar o sono teu.



Dorme, meu filho, dorme no meu peito



Sonha a felicidade.



Velo eu Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo



Me apavora a renúncia.



Dize que eu fique



Afugenta este espaço que me prende



Afugenta o infinito que me chama



Que eu estou com muito medo, minha mãe.